terça-feira, 30 de julho de 2013

Resenha de Estação Carandiru - emocionante...

Li esse livro há um bom tempo , e ainda não tinha feito uma resenha sobre ele, para mim é uma temática interessante, eu sou naturalmente curiosa e gosto de saber mais sobre ambientes e culturas que desconheço, e no caso de um presídio esse eu NUNCA havia botado se quer os pés lá, conheci primeiro o FILME, vocês lembram? Aquele premiado, aclamado pela critica,  Hector Babenco Em seguida li o livro, e atualmente me veio o assunto a tona novamente por conta das últimas notícias sobre o triste massacre ocorrido em 1992, onde morreram 111 detentos:  26 policiais vão a julgamento, sobre o MASSACRE DO CARANDIRU.


 
Livro: ESTAÇÃO CARANDIRU
Editora: Companhia das Letras.

297 páginas.
Autor: Dr. Drauzio Varella.


"Com os anos, ganhei confiança e pude andar com liberdade pela cadeia. Ouvi histórias, fiz AMIZADES verdadeiras, aprendi medicina e muitas outras coisas. Na convivência, penetrei alguns mistérios da vida no cárcere, inacessíveis se eu não fosse médico. Neste livro, procuro mostrar que a perda da liberdade e restrição do espaço físico não conduzem à barbarie, ao contrário do que muitos pensam." Pag. 10.


Dráuzio Varella, médico cancerologista paulista, iniciou em 1989 um trabalho voluntário de prevenção à AIDS na Casa de Detenção de São Paulo, o maior presídio do Brasil, situado no bairro do Carandiru e que abrigou na época mais de 8000 presos.  Sendo considerado na época o maior presídio da América Latina, foi desativado e parcialmente demolido em 2002 no governo de Geraldo Alckmin, no local foi construído o Parque da Juventude.


Drauzio Varella era um renomado médico quando do momento da publicação do livro Estação Carandiru. Dez anos antes de publicar o livro, quando iniciou o trabalho voluntário dedicado à prevenção da AIDS no maior presídio do país - um dos espaços mais propícios para a proliferação da doença. Fruto desta experiência no presídio localizado no bairro paulista de mesmo nome, o livro Estação Carandiru fez de Drauzio Varella, digamos, um grande antropólogo. Sua obra, escrita de maneira romanceada, trata, contudo, de uma realidade nua e crua, baseada na convivência do médico com  presidiários e funcionários, envolvidos em um rotina peculiar e, algumas vezes, chocante. 


O livro é repleto de relatos e detalhes que só mesmo quem viveu tanto tempo dentro do presídio podia saber, cofesso que me EMOCIONEI MUITAS VEZES lendo esse livro, porque ele é um RETRATO nu e cru, verdadeiro do que acontece no nosso sistema prisional falido ainda hoje... Apesar do Canrandiru não existir mais, mas quantos outros "Carandirus" não existem por ai em menor tamanho, porém em mesma escala de dificuldades e problemas?


Ao contrário do que se possa imaginar, Estação Carandiru é bem mais do que um livro sobre a prisão. Ele também não fala apenas sobre a violência predominante dentro da cadeia ou sobre as injustiças da lei. Nem mesmo é uma peça de acusação contra os detentos. O livro conta histórias, fala de seres humanos e destrói alguns mitos tão popularizados na mente das pessoas, como a violência, por exemplo. Obviamente ela existia, fazia-se presente no dia-a-dia da cadeia. Mas, na maior parte do tempo, ela era controlada pelos próprios prisioneiros. Isso era necessário para ter um mínimo de segurança física e pessoal de cada um. Por isso, a "legislação" interna, a palavra de honra e um certo conceito de respeitabilidade eram indispensáveis. E rigorosamente respeitados.


Varella passa primeiro por um processo de adaptação, vemos ele desconstruir preconceitos, quebrar estigmas e ganhar a confiança dos presos. Ser o médico ali era um importante papel:

”Com mais de vinte anos de clínica, foi no meio daquelas que a sociedade considera como escória que percebi com mais clareza o impacto da presença do médico no imaginário humano, um dos mistérios da minha profissão” (p. 75).




Estação Carandiru é um desses livros que parecem ter VIDA, que você não consegue largar a leitura, a minha edição foi completa, com MUITAS FOTOS, e fatos relatados, que nos envolvem, nos faz parar pra pensar, refletir sobre a vida e as consequências dos atos de cada pessoa, e o que leva um ser humano a viver em tais condições.
É um livro para chorar por pena de ladrão, por morte de moleque e até de polícia, mas também livro para RIR muito de situações inusitadas, nem tudo no Carandiru era violência, pelo contrário, houveram muitas histórias de AMIZADE e de amor...
Recomendo a leitura!
=)



"O impasse tinha duas soluções: parar de ir à cadeia ou encontrar um horário para atender os doentes, organizadamente. Prevaleceu a segunda alternativa. Aquele mundo havia entranhado em mim, era tarde para fugir dele." Pag. 80.

"Quandos os tiros calaram, caiu um silêncio de MORTE na galeria" Pag 290.

Sandra Falcão.

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